Eu sempre achei fascinante a forma como certos lugares parecem carregar pedaços da gente, como se, de alguma maneira, nossas histórias ficassem impregnadas nas ruas, nas esquinas e nos prédios que atravessamos todos os dias. E foi isso que senti ao reler São Paulo comoção de minha vida, de Mário de Andrade.
Mário escreve sobre São Paulo com uma mistura de nostalgia e realidade crua que me pegou de jeito. Ele não idealiza a cidade, sabe? São Paulo, para ele, é ao mesmo tempo caos e poesia, rotina e surpresa. É uma cidade que ele viveu de dentro pra fora, sentindo cada mudança de vento, cada prédio que brotava no horizonte, cada pedaço de concreto que roubava um pouco do céu.
Em cada página, dá para perceber o carinho, mas também o cansaço. O amor por São Paulo está ali, mas um amor que entende as falhas, as desilusões, os tropeços. Mário narra uma São Paulo que crescia rápido demais, que engolia tudo e todos sem pedir licença. Ele fala sobre o barulho das ruas, sobre as pessoas apressadas, sobre a solidão que às vezes nasce no meio da multidão. E, mesmo assim, ele não consegue deixar de amar essa cidade cheia de contrastes.
Eu me peguei refletindo sobre o quanto nossas vidas se parecem com isso. Nós também somos construídos em meio ao caos, às mudanças inesperadas e, mesmo assim, seguimos nos apegando aos detalhes que fazem tudo valer a pena. No caso de Mário, foi São Paulo. No nosso, pode ser qualquer lugar onde deixamos um pedaço do que somos.
São Paulo é mais do que o pano de fundo no livro. Ela é quase um personagem, cheia de vida, cheia de histórias, cheia de saudades. Mário traduz isso de um jeito tão sensível que, mesmo que você nunca tenha vivido na cidade, sente como se estivesse ali, caminhando pelas mesmas ruas, respirando o mesmo ar carregado de sonhos e desilusões.
São Paulo comoção de minha vida é aquele tipo de leitura que te deixa pensando por dias. A gente sai dela com a sensação de que, mesmo no meio da confusão, tem beleza em cada canto que nos acolhe.
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