É ela



Estava me arrumando para me reunir com os amigos no bar que abriu semana passada aqui na Rua 15, o plano era uns chopes e ficar longe do telefone, mas eu sabia que não poderia evitá-la para sempre. Ela me ligou mais cedo e ficou em silêncio, e eu sabia o que ela estava dizendo, ou queria dizer. Tive de respirar fundo para não cair também. Sei que foi eu que o fiz, mas se soubesse que seria tão difícil tinha tendado suportar, mas acho que não seria certo. O coração dela está cansado de falsos amores, de paixões não recíprocas. Eu devia isso a ela, não me perdoaria se a segurasse, se a escondesse do mundo só para mim quando o que mais gritava dentro de mim era liberdade. Eu queria ser um homem livre de todas cobranças, de todas as preocupações. Não é que eu não goste dela, muito pelo contrário, mas eu também me devo algumas coisas, simplesmente não poderia abrir mão de mim assim, sei que também não foi muito justo abrir mão dela, mas tive que fazer. Agora ela pensa que fez algo errado, que o problema é ela, quando, mesmo soando clichê, o problema sou eu, é meu. A falta que ela me fez essa semana foi enorme, confesso, mas a sensação que tive de sair por aí sem me preocupar em voltar foi única, e ela não queria dar a volta ao mundo, e seria injusto me prender aqui. Agora ela atualiza o status do Whatsapp todos os dias, desativou o Facebook e não conseguiu apagar as fotos do Instagram. Nem eu. Parece que no fundo ambos temos esperança de acordar e ver que tudo isso foi um erro. Que foi um puta erro eu ter largado a mulher da minha vida para gritar minha felicidade em ser livre, enquanto eu era feliz no sofá da sala, e foi um puta erro ela ter aceitado tudo isso sem ter dito nada. Ficou em silêncio enquanto eu tomava as decisões. Talvez ela não quisesse um pouco de culpa. No fundo não concordou nem desconcordou, só tentou entender se fosse com ela o que teria feito. E ela realmente é uma mulher fantástica, e eu não sei o que estou fazendo aqui ainda. Por que ainda não fui atrás dela, e disse que é ela, a minha doce liberdade, a felicidade que eu vivo a gritar. Que eu conto as horas para chegar a noite e comer pizza dormida, assistir algum noticiário idiota e dormir de conchinha... Só que ela não atende agora, será que já me esqueceu ou só está evitando dizer tudo o que não disse? Calma, tem alguém na porta. É ela com aquele vestido azul marinho que realça seu tom de pele. É ela e mais nada, e agora eu preciso ir, pegar de volta o que é meu, o que nunca devia ter saído daqui.

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